29 de jul. de 2011

BH music station

Moro em Belo Horizonte há um ano e meio e minha vida noturna aqui costuma ser bem diferente daquela que eu tinha em Fortaleza, por vários motivos. O fato é que durante o primeiro ano na cidade eu conheci bem pouco da música, dos músicos, casas noturnas, djs e produtores de uma cidade famosa por supervalorizar a cultura local.
Pouco depois que cheguei, no verão de 2010, o evento de protesto Praia da Estação era a melhor atração da cidade e lá acabei conhecendo a Graveola e o Lixo Polifônico, banda queridinha da cidade junto com a Dead Lovers Twisted Heart. Aliás, de tão próximas, as duas fazem shows com o nome de Gravelovers e parte de seus integrantes são responsáveis pela excelente e divertida Orquestra Mineira do Brega.
Apesar de gostar de Graveola, sempre tenho a sensação, ao ouvi-los, de que eles esqueceram um pé e uma mão em Recife. Já a Dead Lovers, por uma conspiração universal, eu nunca consegui ver ao vivo. O som deles é bem interessante, mas sinto falta de inovação ali.
Nesse ponto, duas boas surpresas vieram dos "mudernos" que frequentam boates alternativas da cidade. A The Hell's Kitchen Project, dica da Anna, é uma banda sem guitarra que faz um rock'n'roll de primeira e cuida muito bem da própria imagem. O site é super bonitinho, muito fácil de navegar e deixa bem claro a proposta da banda. Vi o trio ao vivo, junto com o Autoramas, e recomendo demais. As letras em inglês me incomodam um pouco, mas a banda tem uma assinatura tão bem definida pelo microfone retrô que esse detalhe se torna quase sem importância.
A outra surpresa (e quando você clicar no play, vai entender que surpresa é uma palavra que cabe muito bem aqui) é o (pré ou pós)punk atonal de experimentos cyber tropicais (palavras deles) da ü. Gato escaldado que sou, se alguém me diz que toca guitarra numa banda de vocal feminino, eu fico esperando um I wannabe Florence and The Machines. A ü passa longe disso, a começar pelo nome compacto e difícil de achar no Google. O primeiro impacto que tive foi uma espécie de soco no estômago. Procurei em todas as minhas referências algo que eu pudesse chamar de parecido: pensei em Tom Zé, Arrigo Barnabé, Mutantes, Sex Pistols e muitas outras coisas, mas nada disso define o som. Para mim, ü é a banda Mário de Andrade gostaria de ter. Em termos de música, acho que é a banda autoral (em português, detalhe importante) que melhor mistura de tudo um pouco e transforma numa música só sua. Os riffs de guitarra são excelentes e o o sax deles parece desde uma buzina de caminhão até um grito agonizante, mas nunca lembra um instrumento de sopro. A bateria e o baixo dão uma linha de coesão que mantém os outros instrumentos todos juntos. Eu não quero comentar o vocal para não estragar a surpresa.
Em Anomia temos um som quase frio, como se estivéssemos ouvindo o som ambiente de uma fábrica fordista. Sólidos começa a mostrar um pouco do barulho que a banda promete, o vocal mostra um pouco do que vai trazer pela frente. Uniformes é um título bem irônico, eu diria. Parece que nenhum dos instrumentos foi gravado junto ou que nem mesmo um músico ouviu a parte do outro antes de escolher o que tocar. E isso fica estranhamente bom. Glamour Nazi dá um espaço maior pra bateria e pro baixo como som e tem a melhor letra também (o que, de novo, dá um lugar excelente pro vocal excêntrico da banda)MGTV é a cor local (porque, ao que parece, estando em Minas, ninguém escapa): o nome é uma referência ao jornal local da Globo e a música podia ser uma releitura (?) do hino extra oficial do estado.
Ainda não conferi os meninos ao vivo, mas se em cima de um palco funcionarem tão bem quanto em estúdio, vale muito a pena tentar.

ps: quebrando a regra do blog, nenhuma dessas bandas tem links de download. É mais para apresentar o que tem de novo no cenário mineiro e vou passando os links à medida que eles forem surgindo.